Amor à prova de demência.

Ontem assisti a uma cena maravilhosa.

Durante a aula de Tertúlia e Meditação fora da caixa que dou numa das residências sénior, aconteceu que um residente que circulava com a sua cadeira de rodas entre a varanda e a sala, onde eu estava com os meus alunos, caiu para trás.

Começou então aos gritos para o irem levantar, no seu tom mal humorado. De salientar que ele é também um homem culto e interessante, que não aceita bem a sua condição precária de saúde.

Uma das residentes, uma mulher também de avançada idade, de pele branca e com uma cara ainda muito bonita, estava sentada num sofá, de onde a sua demência avançada já pouco a faz interagir.

Mas quando o J. caiu, e para surpresa de todos, ela levantou-se de imediato para ir ter com ele, agitada e nervosa. Foi a primeira a chegar, antes das auxiliares que acabaram por o levantar.

Só quando o viu a salvo voltou para o seu lugar e ao seu estado alheado, mas soltando um curioso suspiro aliviado. Tudo isto, sem pronunciar um som.

Fiquei a saber que ele tinha sido seu namorado, quando ambos ainda estavam bem.

J. ainda é um homem bonito que soube aproveitar bem a vida. Pergunto-me se o coração daquela mulher tem ainda viva a memória de quem um dia o fez vibrar. Ou será que o amor não morreu e é realmente mais forte do que a doença?

Não tenho respostas. Mas dei por mim comovida. E não precisei de mais nada.

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