“Os meus pais não me ensinaram a sofrer.”

… disse-me um aluno senior de uma das residências assistidas, referindo-se ao facto de ser filho de pais separados e ambos terem feito tudo para lhe proporcionar o melhor. Antigamente eram raros, os divórcios, e, por isso, não muito bem vistos, pelo que as crianças eram verdadeiras vítimas.

Não aconteceu com ele. Havia dinheiro e amor, apesar de laços quebrados.

Sente que teve tudo: mulheres, dinheiro, mundo. Nunca foi contrariado e a vida era fácil para ele.

Mas hoje, vê-se reduzido a uma cadeira de rodas e totalmente dependente. Tem um feitio difícil, é pouco popular entre os residentes, e esta sua inesperada confissão, na intimidade da nossa aula, surpreendeu os presentes, e uma onda de compaixão até então impossível, desenhou as suas primeiras e valiosas pegadas.

E aprendi com ele que é importante educar para a imprevisibilidade da vida, para a generosidade e, sobretudo, para a humildade.

Foi uma sessão especial, onde todos abrimos um pouco mais o coração para a tolerância e o respeito, em todas as direções.

E depois, arrumámos pelo lado de dentro, como costume nestas sessões.

“Quando volta outra vez?” Perguntou ele.

“Para a semana.”, respondi. Ele sorriu, com uma leveza que pareceu apagar parte das suas rugas.

E foi com o coração a transbordar que entrei no carro rumo a casa.

É bom comprovar que este meu projeto sem idade de “Tertúlia e Meditação fora da caixa”, em Residências Senior, chega fundo e transforma. Agradeço às instituições que têm acreditado e confiado em mim, a visão e a consideração pelos seus clientes mais velhos.

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