Era o meu tio emprestado favorito.
Dele lembro as suas cócegas, a ternura no olhar, o interesse em saber da minha vida, mesmo eu sendo tão pequena.
Recordo a fantasia que me alimentava nos Natais que passávamos juntos, quando me dizia que Jesus estava a descer a rua, mas vinha muito ao longe.
E eu imaginava-O de camisola amarela, bem quente para não se constipar.
Não sei se partilhei isto com ele, mas, se o tivesse feito, ele teria confirmado, porque era perito em ir comigo onde a minha imaginação me levasse. Convidei-o para meu padrinho de casamento aos seis anos.
Ele foi para mim um segundo pai, mesmo que nos últimos tempos não o tenha acompanhado tanto. A sua ternura, a sua voz suave e serenamente divertida, a forma carinhosa como me chamava “Sofia da gente” criaram uma parte valiosa da minha estrutura.
Tinha quase 98 anos.
Hoje, diante do seu caixão, senti que a idade não existe quanto nos despedimos de quem gostamos. Existe sim a dureza de um tempo que passa, mas que também guarda a beleza das vivências que nos permite recordar. Esse é o seu rebuçado.
Por isso, quem o tempo leva, também nos oferece o seu testemunho, nos corações que tiveram a sorte de serem tocados por ele.
O tio Antonio parte agora para junto do seu grande Amor. A maior e melhor história que algumas vez assisti. E lá de cima sei que olharão ambos por todos nós. Família maravilhosa na frente. E eu espero estar imediatamente no banco de trás.
Um grande beijinho queridíssimo Tio António.
Possa a sua viagem ter a paz que sempre transmitiu!