Vi-a entrar lentamente, com expressão séria e digna, enquanto a neta, com um sorriso tímido, se certificava de que a avó ficaria mesmo bem comigo.
Fechou a porta quando a viu sentada, afagando a bengala com uma das mãos e esboçando então um sorriso simples.
Fiquei curiosa. Nunca tinha recebido para uma Leitura Energética/Aura alguém daquela idade. Sem que eu lhe perguntasse, revelou-me: tinha 94 anos!
94 anos? Cheguei-me para trás, já deliciada!
“Olhe, menina, estou aqui e digo-lhe que não percebo nada dessas coisas das energias. Mas agora, embora me sinta bem, sei que não vou ficar cá muito tempo. Dá para ver “aí” como vai ser depois? E quando vai ser? Ainda tenho muita coisa que quero fazer. “
Expliquei-lhe que a viagem da Leitura não vai tão longe. Mas talvez a ajude a compreender melhor o valor da sua vida. E, se tem planos, vamos ver como estão a crescer. Perguntei se concordava.
Hesitou. Depois sorriu com um brilho matreiro nos olhos e concordou.
Começámos então por ali fora e, para mim foi surpreendente encontrar uma energia madura, mas cheia de luz. A certa altura, diante da informação que lhe ia chegando, confessou timidamente a que se referia, quando falou em “coisas para fazer”: Um dos filhos queria vender-lhe a casa e isso para ela era uma traição, conforme me explicou a meio, e não sabia o que fazer.
Ao contrastar essa revelação com a metáfora que vi na leitura, perguntei-lhe se tinha falado com o filho sobre os seus sentimentos. Confessou que não. Aconselhei-a a fazê-lo, porque de certeza que ele tinha boas intenções e não se conseguiu pôr no lugar da mãe. Ela ficou mais aliviada e constatou que, de facto, ele sempre fora um bom filho. Graças a Deus, neste caso, era mesmo só um problema de comunicação. Ambos, por amor, acreditavam estar a fazer o melhor. E estavam a magoar-se um ao outro.
Acabou a leitura com ela de sorriso mais aberto, fascinada com toda aquela informação que lhe veio em histórias e francamente mais aliviada.
Antes de sair, disse-me:
“Bem, fiquei sem saber por si como vai ser depois. Mas, olhe, talvez chegue lá mais rápido.”
Disse-lhe que tinha limpo a sua energia e feito um buraquinho para que ela pudesse ver as suas próprias imagens daqui para a frente. Bem para a frente.
Rimos as duas, enquanto me apertava a mão.Despedi-me dela, com o coração cheio. E aprendi que a energia não conhece mesmo idades. Por isso, ao lê -la, oferecemos ao outro o melhor dos presentes: a Esperança.