Ontem falava com uma amiga sobre a nossa década, a dos 50.
E hoje, dormindo sobre o assunto, a reflexão tornou-se mais profunda.
Aos 50, bate-nos mais forte o peso das suposições. Onde era “suposto” estarmos, com quem, em que circunstâncias e onde. Como nos vemos face aos sonhos que alimentávamos e a realidade que temos.
E, silenciosamente, há uns que damos como perdidos e fechamos a porta, com resignação, mais ou menos pacífica.
E tomei consciência de que a análise da nossa vida, vista por esse prisma, pode levar à frustração.
Porque, na verdade, o que conta é a felicidade que conseguimos gerar à nossa volta. O que ficou melhor depois da nossa passagem. Os encontros que nos trouxeram luz e paz. Aquilo que demos, o que recebemos, os lugares que nos tocaram. Os momentos que não vamos mais esquecer. Os desafios que superámos e aquilo que sempre nos faz erguer a cabeça.
Então apercebi-me que a nossa vida vale muito mais do que uma moldura que se partiu. Afinal, vale por esse lugar que nutrimos o melhor que conseguimos e que sabe ser guia pelos caminhos da vida.
E só por isso, vale a pena continuar, sabendo que há toda uma coerência na nossa história que a torna heróica e persistente.
Estamos sempre a caminho de algo maior do que nós, que nos vai sendo revelado aos poucos, como um chocolate debaixo da almofada.
Seja qual for a nossa idade, que o nosso coração se mantenha aberto, disponível e flexível para os presentes da vida. Porque nada acabou, de facto.
Só que agora, o que nascer, virá livre de molduras. E, por isso, mais bem aproveitada.