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Conheci a minha prima Xana há apenas três anos.
Uma prima que tem exatamente a minha idade.
Esta informação não teria nada demais, se não fosse o facto de ambas termos nascido um pouco fora do tempo, de termos alguma diferença de idades dos nossos irmãos, eu mais do que ela, mas, ainda assim, o suficiente para nos sentirmos desfasadas.
E, essencialmente, por ambas nos sentirmos diferentes.
A vida proporcionou-nos a oportunidade de passarmos cinco dias juntas, confiando que o sangue nos ia dar a cumplicidade que precisávamos para tanta intimidade. O convite surgiu por parte dela e não hesitei em aceitar. Já nos tínhamos encontrado, num ou outro jantar ocasional, uma ou duas vezes por ano. Quando estávamos, estávamos sem horas.
Mas cinco dias, foi uma aposta de ambas. A excitação de termos a mesma idade, representou para nós, desde o início, uma espécie de um reencontro de gémeas separadas á nascença, como numa telenovela qualquer.
Ou talvez uma intuição que ambas temos bem trabalhada e que não nos deixou vacilar.
Tínhamos mesmo que nos conhecer melhor.
E foi, sem dúvida, uma aposta ganha.
A minha prima é uma mulher do mundo. Fala pelos cotovelos, tem sempre assunto e consegue não ser por isso cansativa. Porque tem histórias interessantes e inspiradoras e sabe contá-las com vivacidade.
É imensamente generosa, forte e magnética, pelo que capta pessoas interessantes como ninguém.
Até numa simples ida à farmácia, conseguiu puxar pelo melhor da funcionária que nos atendeu, a ponto de saírem da loja praticamente amigas.
Porque a minha prima vai até ao fundo de tudo e de todos. Consegue não ser superficial, nem pesada.
Por isso caminha pela vida sorridente e descomplicada, sempre com o seu Deus como referência. Profundamente crente, nada impõe, e até por aí não lhe faltam histórias.
A minha prima é assim, uma fonte de inspiração.
Consegui rever-me nela nesta paixão pelas pessoas e pelas suas histórias. Pela vontade de atravessar o convencionalismo com que fomos criadas para abrir novas estradas e descobrir o mundo. Cada uma à sua maneira.
Gostamos de palmiers simples e de umas boas gargalhadas. Estamos sempre prontas para aprender, escutar e atirarmo-nos ao mar. Adoramos comer bem e tagarelar.
E ambas brincámos com bonecas até muito tarde.
Inventamos personagens para explicar a vida e insistimos em manter um lado infantil que nos oferece alegria nos momentos certos.
E ambas nos orgulhamos de não nos termos rendido a um destino limitado.
Cada uma, à sua maneira, desenha todos os dias a sua pegada, o melhor que consegue.
Terminados os nossos cinco dias, sei que vou guardá-los para sempre, como a base de uma estrutura nova, com ramos verdejantes que impulsionam um novo olhar sobre as nossas famílias.
Unidas pelo sangue e fortalecidas por uma afinidade, tantas vezes desejada, e finalmente encontrada entre ambas.
Não somos gémeas, mas temos a mesma idade. Somos primas e é tão bom dizê-lo em voz alta!
As minhas raízes ficaram mais fortes.
